Jackson do Pandeiro, Canhoto da Paraíba, Zé Ramalho, Chico César, Baixinho do Pandeiro, Paulo Ro, Escurinho, Totonho... O que esses músicos teriam em comum? Todos eles nasceram e/ou se criaram no estado da Paraíba. Terra de diversidade, de misturas sonoras, dos cocos aos afrobeats; dos choros, passando pelo xaxado, embolada, samba e rock; bebendo nos cantos e toques da jurema, do toré e, ainda, em variadas vertentes da “música eletrônica”, como o drum’n bass. Por estes e vários outros motivos, a produção musical paraibana ainda merece uma maior atenção e reconhecimento por parte dos amantes da boa música brasileira.
O Jaguaribe Carne, por exemplo, é um movimento que existe desde meados da década de 1970 e se iniciou na capital paraibana, João Pessoa. Muito mais do que um movimento musical, trata-se de um coletivo que propôs e continua a propor diálogos entre várias linguagens artísticas, movimentos sociais, políticos, culturais, etc. Musicalmente, o Jaguaribe Carne, composto em sua base pelos irmãos Paulo Ro e Pedro Osmar, destaca-se pela versatilidade, criatividade, experimentalismo e ousadia, que se traduz em melodias e harmonias pouco convencionais. Este “movimento”, que tem sua importância reconhecida por músicos como Lenine, Elba Ramalho, Dominguinhos, Chico César, dentre outros, ainda é pouco difundido no Brasil e menos ainda no exterior. E é muito curioso que isso ocorra em uma capital próxima a Recife que, por sua vez, tornou-se mundialmente conhecida por um dos movimentos que mais marcou a produção cultural brasileira nos últimos quinze anos.
A cena musical pernambucana, principalmente aquela ligada ao movimento manguebeat, protagonizada por figuras como Chico Science, Otto e Fred 04, tornou-se referência nacional e internacional (com toda justiça, diga-se de passagem), no que diz respeito a misturas e fusões sonoras entre o tradicional/ancestral e o contemporâneo/digital. Estado vizinho de Pernambuco, a Paraíba é a casa do Jaguaribe Carne, nome que faz referência ao bairro onde Pedro Ro e Paulo Osmar, dois protagonistas deste movimento, foram criados e fomentaram uma série de iniciativas que abarcavam diversas linguagens artísticas, além dos movimentos sociais nos quais estavam envolvidos.
Atualmente, há uma forte cena musical na Paraíba, que está se organizando e crescendo a passos largos. Grupos e coletivos como Chico Correa e Eletronic Band, Totonho e os Cabra, Cabruera, Burro Morto, Ubella Preta, Da Silva, dentre outros, têm produzido trabalhos autorais de qualidade que, aos poucos, vem se tornando conhecidos no cenário nacional. Estes e outros trabalhos têm como uma de suas referências o Jaguaribe Carne, que foi um movimento precursor no estado da Paraíba, cujas propostas musicais dialogavam com o experimentalismo, a construção coletiva, a interface com as tradições populares e, aos poucos, foi se aproximando do universo da música eletrônica.
Dentro de todo esse caldeirão sonoro há uma figura que tem se tornado referência para todos esses artistas/bandas, como mestre das artes populares da Paraíba – José Pedro Fernandes (69) – também conhecido como Baixinho do Pandeiro. Recentemente, morei em João Pessoa durante três meses e tive o prazer e o privilégio de conhecer essa “figuraça”. Dotado de um currículo riquíssimo, que passa por participações com músicos como Jackson do Pandeiro, Dominguinhos e Zé Ramalho, Baixinho ainda consegue ser bem-humorado, simples e generoso. Ele me surpreendeu quando cheguei em casa e o vi com o meu pandeiro, tocando com meus companheiros de morada, no bairro Castelo Branco III, onde residi entre os meses de agosto e novembro de 2009. Com uma Cybershot 10.1 “importada” do Shopping Oi (Belo Horizonte) fiz algumas imagens desse “coroa” tocando. Quando terminaram o som, proseamos bastante, tocamos um pouco e ele soltou a grande: “diga aí minero, tu quer um depoimento, é”? “Uai, demorô!”, foi minha resposta. Fizemos as imagens. Ele falou de coração aberto. Não fiz perguntas. Liguei a câmera e o Baixinho falou a vontade sobre várias questões, desde sua trajetória que se iniciou com um pandeiro de lata de doce, passando pelas suas realizações profissionais como pandeirista e a sua aposentadoria como mestre das artes populares que foi contemplada pela Lei Canhoto da Paraíba. Mas não ficamos apenas na conversa. Baixinho nos deu uma amostra de toda a sua intimidade com o pandeiro e, ainda, cantou uma música de sua autoria. CH, Fabiano, eu, Deivid, Caio e Pedro acompanhamos esse cabra da peste no som. A todos eles, muito obrigado. E aquele salve pro coletivo Casinha!
Texto: Paulo "PG" Rocha
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