terça-feira, 15 de dezembro de 2009

FREE WORLD ?


(ação – Fred Zero Quatro, Folha, sexta, 18.09)


(…) a despeito de toda a questão do acesso democrático e da maior visibilidade que chegaram com a internet, um fato inegável é que a web tem desestruturado quase todas as cadeias que se envolvem com a digitalização, do jornalismo à música. Hoje é moda celebrar a web, dizendo que finalmente nos livramos dos malas da indústria fonográfica. Tudo bem, a indústria até tinha um aspecto predatório (…)

Se o mangue beat tivesse surgido num ambiente parecido com o que rola hoje, com gravadoras em crise, talvez o mangue beat tivesse se limitado a uma ou duas comunidades de Orkut, uma coisa de gueto.

[No início dos anos 90] A Sony foi a Recife, contratou o Chico Science e bancou o primeiro clipe da banda, que rodou direto na MTV. Finalmente a indústria olhava para nós. E teve um efeito multiplicador forte. As pessoas esquecem isso. Hoje há uma situação sem indústria, sem cadeia produtiva. Está se instalando uma religião da tecnologia, um fundamentalismo tecnológico.

Estamos todos aguardando que surja um novo modelo de negócio baseado na web 2.0. Mas ele não surge.



(reação – Álvaro Pereira Junior, Folhateen, segunda, 21.09)

Não se trata de concordar com ele ou discordar. Eu mesmo já escrevi coisa parecida: no universo musical, a web é uma maravilha só para o ouvinte. Música parece que vai dar cada vez menos dinheiro, atividade de nicho e amadora.

O que sobra da entrevista de Zero Quatro é a ironia: ele era dos caras que vieram chacoalhar o establishment, que traziam modernidade do lugar mais improvável: ‘Somos do mangue, mas temos computadores! Somos cyber! Lemos a Wired!’.


UPDATE: (réplica – Fred Zero Quatro, G1, domingo, 27.09)

No caso específico da música, por exemplo, eu não posso chegar numa feira livre e pegar quatro tomates e cinco pimentões e levar pra casa, porque eu vou ser acusado de ladrão – e olha que estou falando de coisas que brotam da terra. Primeiro porque estamos numa sociedade capitalista, e segundo porque ali houve trabalho, investimento. É muito doido saber que há uma consciência de sustentabilidade quando se trata da natureza, dos rios, das florestas, e que essa mesma geração não aplica esse conceito quando se trata de música, cinema, jornalismo, formação de debate. Acha que o pensamento, que a produção cultural tem de ser necessariamente compartilhada. O conceito de sustentabilidade devia ser preservado também quando se trata das cadeias econômicas, produtivas, profissionais da cultura.


4 comentários:

  1. A informação é livre e infinita. A Terra não, é escassa. Essa é a diferença. Que músicos, jornalistas e produtores de informação encontrem outros meios de sobreviver, porque não vai ter jeito mais de cobrar por produção de informação e arte. Não adianta querer apertar contra os dedos, porque sai por entre as mãos. Essa é a realidade. Não dá pra ficar reclamando. Faça de tudo um pouco: música e também agricultura. Assim, você faz o que gosta e também não passa fome. Pra que a especialização?? Ela muitas vezes é cruel. Um trabalha sob o Sol, expropriado, enquanto o outro "faço o que gosto; sou artista". Isso também é capitalismo. E burguesia. E anti-democracia. Quem está na lavoura também gostaria de ser super-star. Por que não dividir o trabalho? Como diz o Bill Mollison, "a grande mudança que necessitamos fazer é de consumo, para a produção, mesmo que em pequena escala, em nossos próprios quintais. Se 10% de nós fizessem isso, haveria o suficiente para todos. Assim, vê-se a futilidade dos revolucionários que não tem jardins, que dependem do próprio sistema que atacam, que só produzem palavras e balas, e não alimento e abrigo." Perdão pela falta de objetividade; são só ideias soltas ao vento. Beijo a esse blog querido.

    ResponderExcluir
  2. Poxa desculpa se estou sendo desleixado com a afirmação mas acho q ainda é pequena a parcela de pessoas que estão na onda da permacultura em bh, acho muito bacana difundir essa idéia aqui no blog, caso esteja errado perdão. Acho que tem dois pontos fundamentais nessa historia toda, falo isso como um rockstar frustado e como um admirador da cultura permanente, primeiro arte funciona como uma resposta, antes o mangue tinha contra o que lutar e uma meta fundamenmtal que era a difusão das idéias que ali se produzia e que se não fosse o manifesto não haveria difusão disso. Havia o underground, havia a gravadora e toda estrutura dela que é contestável mas que hoje alguns acham fundamental. Hoje qual é propósito da produção musical? Com qual a objetivo se faz música"iNTERROGAÇÃO". O que mais vejo é uma produção que visa retorno material imediato da arte, por isso gravadoras, selos, marcas são tão necessarios, comprei um equipamento de som, um pano pra figurino preciso se reembolsado, preciso ter o retorno, é isso que enxergo na grande maioria das pessoa que produzem. Mas tambem vejo que cada vez mas é neccessario buscar a essência da coisa sem esperar retorno produzir por produzir "não sou artista som amante", por isso escrevo meus versos por isso pinto mes quadros, por isso faço filho, por isso pinto o nariz. naum sei se fui conciso na argumentação, mas é que já são meia noite e a pupila ta meio dilatada. Abraço meu e do Peri a todos os amigos da casinha.
    Cainã

    ResponderExcluir
  3. Bom, esse fim de semana visualizei jeitos bacanas de sobreviver a arte sem a propriedade intelectual. Os shows, a experiência estética e ética na veia... talvez seja essa a saída... a música gravada seria a forma de fazer circular o nome do artista, mas como ele vai pagar seu pão, seu figurino? Com suas apresentações, suas aparições ao vivo, a construção de momentos elevados... penso, acho... abraço!

    ResponderExcluir
  4. Não podemos nos esquecer que você pode sim roubar aquele supermercado ou pegar na feira o que eles chamam de lixo mas é ainda são alimentos prontos para o consumo.
    Fred 04 foi infeliz, primeiramente pois ele sabe que seu emprego acabou e que ele terá de ser mais um trabalhador qualquer e depois dizer que a internet só restará o nicho e o amadorismo, o que se mostra uma enorme falácia basta ver o quanto de boas produções existem por aí e DE GRAÇA.
    Sabemos que a internet também não chegou a todos e sabemos ainda mais que a arte só favorece aqueles que podem paga-la tanto para fazer quanto para consumi-la...
    Quem precisa de Arte(com "a" maiusculo)? quem precisa de grandes gravadoras? Se simplesmente eu posso tocar no meu quarto e você aí da sua casa pode ouvir, se você QUISER...
    Acabe com a cadeia produtiva, FAÇA VOCÊ MESMO!

    ResponderExcluir