Numa entrevista recente, o Yamandu Costa dedilhou um pouco o seu violão, olhou para o jornalista que o entrevistava e perguntou: você sabe o que é sair aí pelo mundo e ter a responsabilidade de sustentar um país na ponta dos dedos?
Falou isso como quem diz: lá fora, quando me vêm, tenho que suportar o peso de dizer de meu país, sustentar toda a arte e toda a poesia que tem o meu povo, dar conta do recado de manter a tradição dos grandes nomes que esse país já produziu, anunciar o que tudo isso tem de novo e transformador...
Achei estranho uma pessoa tão jovem como o Yamandu ter essa visão de sua arte. É diferente de toda a gente que acha que dada poética que encanta as pessoas é apenas o exercício de uma dádiva que traz retornos financeiros, gozo, prazer, evidência, notoriedade, visibilidade e certo estatuto diferenciado do ser no mundo, como se houvesse assim os artistas e os outros – os que gozam e os que trabalham e aplaudem.
Com tudo isso já tão assentado, vem o Yamandu e joga a inquietação de seu sofrer a responsa que é ser artista...
Penso que é isso mesmo que nos remete à arte, à poesia, ao ônus que significa o exercício de uma poética no mundo, enfim.
Confesso, isso me remete à Casinha e a sua proposta, aos encontros que ela proporciona e aos sujeitos que ali se engendram no estranhamento que fazem do mundo; lugar de encontro, desvios e divergências...
Num mundo de tanta competição, de tanta futilidade, de tanto consumo, alguns sujeitos se pôem a matutar, a exercitar seu estranhamento no mundo, a constituir um lugar de fruição poética, coletivamente.
E é bom que se entenda o quanto isso se distancia do vulgar hedonismo de consumo e o quanto se aproxima de um lugar do fazer poético enquanto um desafio da contemporaneidade.
Talvez aqui possamos resgatar a figura do aedo (poeta-cantor) que tanto encantava a comunidade agrícola e pastoril da antiguidade, anterior à constituição da polis, à adoção do alfabeto, e que significava para o povo o máximo de sua consciência e única a possibilidade de reprodução da cultura, de transmissão da informação para além das mesquinharias do cotidiano.
“Toda a visão do mundo e consciência de sua própria história (sagrada e/ou exemplar) é, para este grupo social, conservada e transmitida pelo canto do poeta.” (citação da introdução a Hesído, de JAA Torrano).
E é isso que nos leva a entender o que o Yamandu quis dizer sobre sua responsabilidade em sustentar um país na ponta dos dedos. Como ao aedo da antigüidade grega, há esse desafio ao poeta contemporâneo, ao sujeito que se põe face ao mundo a predicar e exercer sua perspectiva poética (seja tocando tambor, violão, cantando, fazendo versos), que é encarar sua responsa, especialmente fugindo do lugar-comum do produto de consumo, do narcisismo e gozo pessoal, da fruição barata da bagatela de encantamento que lhe retornam na sedução de cada show, e, para além de toda essa mediocridade, dar conta de seu fazer poético, como quem sustenta nos dedos um país.
A Casinha, enquanto um espaço coletivo de fruição poética e de exercício de um certo predicar sobre o mundo tem esse desafio de permitir que as pessoas se encontrem com o aedo, em sua missão e significado de dar sentido ao mundo, tecer-lhe sonhos impossíveis, trazer o novo e permitir que os sujeitos que ali se formam não se confundam com o gozo narcísico e a morte que ele opera na função da arte.
A Casinha, talvez, como exercício de uma poética, signifique a novidade dos que se assustam com a responsabilidade que isso implica.
Falou isso como quem diz: lá fora, quando me vêm, tenho que suportar o peso de dizer de meu país, sustentar toda a arte e toda a poesia que tem o meu povo, dar conta do recado de manter a tradição dos grandes nomes que esse país já produziu, anunciar o que tudo isso tem de novo e transformador...
Achei estranho uma pessoa tão jovem como o Yamandu ter essa visão de sua arte. É diferente de toda a gente que acha que dada poética que encanta as pessoas é apenas o exercício de uma dádiva que traz retornos financeiros, gozo, prazer, evidência, notoriedade, visibilidade e certo estatuto diferenciado do ser no mundo, como se houvesse assim os artistas e os outros – os que gozam e os que trabalham e aplaudem.
Com tudo isso já tão assentado, vem o Yamandu e joga a inquietação de seu sofrer a responsa que é ser artista...
Penso que é isso mesmo que nos remete à arte, à poesia, ao ônus que significa o exercício de uma poética no mundo, enfim.
Confesso, isso me remete à Casinha e a sua proposta, aos encontros que ela proporciona e aos sujeitos que ali se engendram no estranhamento que fazem do mundo; lugar de encontro, desvios e divergências...
Num mundo de tanta competição, de tanta futilidade, de tanto consumo, alguns sujeitos se pôem a matutar, a exercitar seu estranhamento no mundo, a constituir um lugar de fruição poética, coletivamente.
E é bom que se entenda o quanto isso se distancia do vulgar hedonismo de consumo e o quanto se aproxima de um lugar do fazer poético enquanto um desafio da contemporaneidade.
Talvez aqui possamos resgatar a figura do aedo (poeta-cantor) que tanto encantava a comunidade agrícola e pastoril da antiguidade, anterior à constituição da polis, à adoção do alfabeto, e que significava para o povo o máximo de sua consciência e única a possibilidade de reprodução da cultura, de transmissão da informação para além das mesquinharias do cotidiano.
“Toda a visão do mundo e consciência de sua própria história (sagrada e/ou exemplar) é, para este grupo social, conservada e transmitida pelo canto do poeta.” (citação da introdução a Hesído, de JAA Torrano).
E é isso que nos leva a entender o que o Yamandu quis dizer sobre sua responsabilidade em sustentar um país na ponta dos dedos. Como ao aedo da antigüidade grega, há esse desafio ao poeta contemporâneo, ao sujeito que se põe face ao mundo a predicar e exercer sua perspectiva poética (seja tocando tambor, violão, cantando, fazendo versos), que é encarar sua responsa, especialmente fugindo do lugar-comum do produto de consumo, do narcisismo e gozo pessoal, da fruição barata da bagatela de encantamento que lhe retornam na sedução de cada show, e, para além de toda essa mediocridade, dar conta de seu fazer poético, como quem sustenta nos dedos um país.
A Casinha, enquanto um espaço coletivo de fruição poética e de exercício de um certo predicar sobre o mundo tem esse desafio de permitir que as pessoas se encontrem com o aedo, em sua missão e significado de dar sentido ao mundo, tecer-lhe sonhos impossíveis, trazer o novo e permitir que os sujeitos que ali se formam não se confundam com o gozo narcísico e a morte que ele opera na função da arte.
A Casinha, talvez, como exercício de uma poética, signifique a novidade dos que se assustam com a responsabilidade que isso implica.
Xuvito
Poxa, fiquei emocionado! Espero que seja a primeira de muitas colaborações para o blog! Abraço Xuvito!
ResponderExcluirPorra Xuvito!! Inspirador hein. Lindo mesmo.
ResponderExcluirVida longa à casinha e que venham mais textos.
Xuvito pra Presidente!!